Por Antonio Ribeiro, da Revista Veja
A questão do "sifu" é mais embaixo
Tostines vende mais porque é fresquinho ou Tostines é fresquinho porque vende mais?
A Secretaria de Imprensa da Presidência contou lorota ontem (segunda) aos jornalistas. Foi dito não ter havido censura na transcrição da expressão chula “sifu”, pronunciada por Lula em discurso da quinta-feira passada, grafada na transcrição da fala como “inaudível”, embora os presentes no evento tenham ouvido a palavra.
Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, as senhoras que transcrevem os discursos do presidente optaram por deitar “inaudível” no papel porque não compreenderam o significado de “sifu”.
Primeira queda. Se as funcionárias do executivo nacional desconhecessem o significado de “sifu”, fica claro que desconhecem também o que “inaudível” quer dizer. Poderiam ter grafado “incompreensível”.
Mas se a lorota oficial fosse levada a sério, as escribas do Palácio do Planalto estariam inaptas para realizar função paga pelos contribuintes brasileiros.
Segunda queda. Quando se desconhece o significado de uma palavra, consulta-se o dicionário. Se o verbete está ausente no “pai dos burros”, procura-se saber o que quer dizer com quem o pronunciou.
Terceira queda. A versão mentirosa da Secretaria de Imprensa da Presidência pressupõe, por dedução lógica, que o presidente se dirige à um país chamado Brasil Menos as Senhoras. Ora, Lula foi eleito por senhoras, senhores e senhoritas brasileiras com mais de 18 anos com título eleitoral válido.
O presidente deve falar a todos devido as regras básicas da democracia, confraria a qual o Brasil pertence. Portanto, ou Lula é mal assessorado ou não deveria ocupar cargo remunerado mensalmente sem atraso, pelo dinheiro dos contribuintes.
Quinta queda. Lula voltou a servir-se do “sifu”, por duas vezes ontem (segunda), em almoço com oficiais-generais das Forças Armadas, no Clube da Aeronáutica, em Brasília.
Conclusão: retorno à casa um. Ou seja, confirmou-se a lorota dos aspones do Planalto aos jornalistas. Por quê? O que motivou o presidente a dizer “sifu” é o “digo o que quero quando quero.”
Sexta queda. No dia 17 de setembro de 2008, Lula disse: "Proibimos a palavra gasto em educação." É cristalino, o presidente considera o conteúdo mais importante do que a forma. A surpresa viria se ele dissesse: “Proibimos esbanjar falta de educação”. Entende-se, Lula seria o primeiro a quebrar a regra.
Sétima queda, a fatal. FHC, enquanto foi presidente, manipulava bem o idioma materno. Tinha a desvantagem, em relação a Lula, de não achegar-se a todos pela qualidade do raciocínio sofisticado. Lula atinge à todos de maneira literal e figurada.
Isto posto, é pena que alguns críticos da grossura do presidente Lula servem-se de linguagem igual ou pior do que a dele.
Tristes moços, diria o gaúcho Lupicínio Rodrigues. Trata-se do sujo falando do mal lavado. Eles jogam a credibilidade no chão.
* A transcrição foi total. Não sei onde foi parar a quarta queda.
