segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Por André Carvalho.
btreina@yahoo.com.br
Molequeira
Molequeira é coisa de baiano e de alguns poucos nordestinos. No resto do país ninguém usa a expressão e muitos nem sabem do que se trata. Molequeira é, óbvio, uma molecagem, uma grande brincadeira, uma coisa de moleque, uma curtição, uma zona, uma bandalheira. O dicionário não registra, mas penso que também podia ser “coisa de político”. Quem sabe assim todo o Brasil entenderia o sentido do verbete.

Molequeira é algo que acontece no dia-a-dia, acontece a cada hora, em qualquer lugar e por diversas razões. Ela tem a capacidade de fazer rir o autor, seus comparsas e seus amigos, fazendo corar a vítima e seus asseclas. Em sendo vítima, melhor que a bandalha aconteça na presença do menor público, de forma a repercutir menos.

Não foi o que ocorreu com o prefeito reeleito do município de Salvador Sr. João Henrique Carneiro, que teve sua carteira roubada, melhor dizendo, “batida”, por ocasião de sua ida a um estádio de futebol, onde assistiria como de fato assistiu, ao jogo entre Vitória e Flamengo, pelo campeonato brasileiro de futebol.

Bateram a carteira do prefeito, ora vejam!!! Com tanta gente para ser roubada, vinte mil torcedores, nenhum deles com segurança ao redor, roubaram exatamente a carteira do prefeito. Só pode ser molequeira, só pode ser sacanagem! Nem a falta de dinheiro provocada pela crise – que só o Lula não enxerga – justifica o fato. Todos sabem que político não carrega dinheiro na carteira, que eles apenas acumulam dinheiro nos bancos, principalmente nos suíços, mesmo assim, roubaram a carteira do prefeito! Acabo acreditando ser coisa da ABIN, a Agência Brasileira de Inteligência, aquela que se enrolou no caso do Daniel Dantas. João derrotou Pinheiro e os petralhas inconformados – eles estão sempre inconformados – resolveram vingar o companheiro. A coisa tem funcionado assim, basta relembrar o caso do ministro e do caseiro.

Mas voltemos ao João. Por molequeira do destino, uma das realizações mais propagadas em sua campanha eleitoral foi a criação da Guarda Municipal para proteger o soteropolitano da onda de violência que atormenta a capital baiana. Pelo visto o tiro saiu pela culatra. Roubaram exatamente o prefeito. Cadê a guarda? Cadê o guarda?

Como o caso se deu no entorno de um campo de futebol lembrei de Garrincha e de seus “joões”. João era todo beque otário, e foram centenas deles, sobre os quais Garrincha tripudiou com seus dribles moleques e fintas travessas, tirando-lhes o direito ao nome próprio estabelecido na certidão de nascimento.

Nosso prefeito nunca foi tão “joão” na vida. O “joão” do Garrincha, o otário, vítima da molequeira, da bandalha. João não joga futebol. João não é torcedor de futebol. João não vai assistir Vitória e ColoColo pelo campeonato baiano. João foi ao futebol para tirar proveito dele, para curtir junto às massas as glórias do eleito. Fizeram-lhe, então, uma molequeira.

Talvez tenha saído aliviado do peso de seus documentos. Sim, porque em muitos casos nome, registro civil e CPF pesam na consciência de seus portadores. É um peso simbólico, intrínseco, amoitado, mas um peso na consciência.

Quem sabe João concorda comigo?