quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Escrito por André Carvalho
btreina@yahoo.com.br

Unanimidade e Ortografia
Estou exultante! Nordestino que sou, fiquei sabendo via jornais, que nosso ilustre presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, detém a incrível marca de noventa e oito por cento de aprovação por estas bandas. Podemos caracterizar a circunstância como uma unanimidade.

Segundo o jornalista, escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues “toda unanimidade é burra”, e como faço parte dos dois por cento restantes sinto-me inteligentíssimo, coisa de pouca valia no Brasil de hoje, mas, quem sabe um dia...

Tempo, tempo!!! Cometi um engano, creio. A inteligência, tem sim, muito valor no Brasil do século XXI. Mais particularmente aquela inteligência que se manifesta na esperteza, que está presente nas trapaças e que se põe a serviço do seu “amo” para levar uma vantagenzinha a mais. Aqui cabe uma ressalva: o diminutivo de “vantagem” é mera licença poética. A realidade requer um aumentativo.

Nosso povo dá, a cada dia, menos valor ao saber e à instrução. A moda é “estar falando genericagerundicamente” de inteligência e cultura e incluir no balaio toda e qualquer manifestação, não importa o valor filosófico, o embasamento científico ou o senso estético. Reuniu ou encantou mais de quatro pessoas é movimento social, e movimento social é cultura é inteligência.

Neste moderno contexto de padrões e códigos sociais, ele, o unânime, que se vangloria de não haver estudado, discursou soberbo na Academia Brasileira de Letras por ocasião da assinatura do decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Paulo Coelho foi superado, mesmo sendo imortal tal qual Machado de Assis.

O que mais valeu aí? Extensa cultura ou esperta inteligência? Sapiência ou ardileza? Cientificismo ou verborragia? Ao povo, pouco importa! Tudo que é bom ou ruim tem sempre gente a favor ou contra: o “curintia” e o “parmeira”, que o digam. Este é um raciocínio meu, porém, típico palaciano.

A propósito do Acordo Ortográfico, registre-se que este imbróglio apareceu, a partir de 1999, no governo do intelectual Cardoso. Muito tempo gasto, muita grana, mil reuniões e comissões para trocar uns hífens, acrescentar outros, suprimir uns acentos, e numa política afirmativa alfabética global reconhecer os direitos do k, w, y no seio das nossas letras, não é mesmo?

Fosse uma iniciativa do atual governo e a coisa seria muito diferente a ponto de merecer uma mãe, comícios de lançamento, pedra fundamental, pré–inauguração e um bem conhecido “nunca antes naistoria deispais”. Teríamos uma reforma, mesmo que sem acordo, emanada do e para o povo, eis que a língua, para muitos filólogos e milhares de petistas é algo vivo e mais usual nas massas desprovidas de alguma ou qualquer coisa.

A reforma impopular do sofisticado FHC não contemplou, por exemplo, a união de duas palavras com a exclusão da última sílaba da primeira e a primeira sílaba da segunda, como se faz no “funk” carioca. Muito menos legislou sobre os láláiáláláiá, comuns no axé baiano. Quantas vezes se pode repetir uma mesma sílaba? Isso ajudaria, e muito, os gringos que brincam o carnaval baiano: “Repeat lá seven times and iá two times”. Não somente os gringos, os paulistas, portugueses, angolanos, moçambicanos também agradeceriam, não é verdade?

E o “s”, essa coisa mal enjambrada quando participante da flexão em número!? Seria liberado para aparecer, ou não, de forma a facilitar a aprovação da turma no ensino fundamental e os discursos de alguns políticos brasileiros.

Por fim, o verbo, a qualquer tempo!