quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Por Carlos Brickmann, em seu Brickmann&Associados.

O petróleo que a galinha ainda não botou
O presidente Lula está no seu papel: suja as mãos de petróleo, esfrega o petróleo na jaqueta da ministra Dilma Rousseff, promete usar o petróleo para resolver os problemas de educação, emprego e saúde, brinca de entrar na OPEP.
Quem não está no seu papel é a imprensa, que tem aceito esse tipo de factóide e mostrado muito pouco dos problemas que ainda teremos antes de desfrutar da riqueza do petróleo do pré-sal.
Primeiro, o custo: é caríssimo extrair o petróleo de tamanha profundidade. O óleo será economicamente viável com o preço do barril nas alturas. Uma queda (e, nas últimas semanas, a queda foi dramática, voltando aos cem dólares por barril) pode fazer com que o investimento não valha a pena.
Segundo, dois movimentos simultâneos (e, num deles, o Brasil é peça-chave) atuam no sentido de reduzir a dependência mundial de petróleo – e, portanto, os preços: os biocombustíveis e as novas fontes energéticas.
No Brasil, o consumo de álcool já supera o da gasolina. Nos Estados Unidos, puxados pela dura legislação da Califórnia, os fabricantes já lançam carros com motores a hidrogênio ou mistos, com gasolina e eletricidade.
A energia nuclear volta a ser utilizada para gerar eletricidade, substituindo a queima de petróleo. Pode ser que nada disso dê certo, e que o petróleo mantenha o preço lá em cima; mas é arriscado planejar todo o desenvolvimento do país em cima de uma descoberta que eventualmente possa ser pouco utilizável.
E, claro, não se pode esquecer que, com o preço do petróleo no alto, cresce a pressão para a busca de combustíveis alternativos.
Cabe aos meios de comunicação, em boa parte, o papel de manter o entusiasmo oficial sob controle. O petróleo do pré-sal pode dar certo, e será ótimo; mas pode ser mais difícil do que parece. A imprensa deve estudar e divulgar as várias alternativas possíveis de futuro.