Pimenta nos olhos dos outros
No Brasil, em 2007, houve 409 mil grampos telefônicos legais. Nos Estados Unidos, no mesmo período, houve 2.208, informa o Correio Braziliense.
Os dois mil e poucos grampos americanos abrangem crimes em geral, a Cosa Nostra, o terrorismo da Al Qaeda, a segurança de uma superpotência que tem muitos inimigos.
Os 400 mil grampos brasileiros abrangem – bem, deixa pra lá.
Qual a opinião dos cidadãos brasileiros sobre a grampolândia? Não dá para avaliar com precisão; mas, a julgar pelo que divulgam os meios de comunicação, é preocupantemente favorável.
Há charges dizendo que só rico tem medo de grampo, que o cidadão comum nada tem a sofrer com a quebra do sigilo bancário; há cartas segundo as quais quem não deve não teme.
Há jornalistas dizendo que a defesa das liberdades individuais é algo que interessa apenas aos corruptos. Nada disso é novidade: muita gente, no massacre de 111 presos no Carandiru, dizia que “ninguém estava rezando”. Antes, diziam que quem não se metesse em política não teria problema com tortura. Aliás, os argumentos dos defensores de práticas ilegais para combater o crime organizado lembram o pessoal da tortura: “Vamos deixar de grampear um telefone se isso puder prevenir um sequestro?” O ex-ministro Jarbas Passarinho usou o mesmo exemplo para explicar a tortura. Como dizia a líder revolucionária européia Rosa Luxemburgo, “a liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem pensa diferente de nós”. Qual a vantagem de violar a lei para combater a violação da lei?