Ferro no peito deles!
Mal começaram as Olimpíadas e a gloriosa imprensa nacional coloriu seu provincianismo ufanista fazendo meio estardalhaço pela conquista de uma medalha... de bronze. Isso depois de China, EUA e Coréia do Sul já terem iniciado a conquista do ouro, o que seria incomum se assim não fosse. Hoje, quando escrevo este artigo, 15 de agosto, 21 países já conquistaram medalhas de ouro, prata e bronze, entre eles Azerbajão, Tailândia e Eslováquia, enquanto o Brasil conquistou heroicamente quatro medalhas de bronze.
A questão não é o ouro, a prata ou o bronze, mas o ferro social que levamos de quatro em quatro anos. Não é à toa que nossa melhor marca em olimpíada ainda é o atletismo, modalidade em que os africanos, cujo nível social não se distancia muito do nosso, também são bons. Ora, direis, temos também o voleibol, mas não é lá muita coisa para uma competição com a diversidade esportiva como são as Olimpíadas.
Pode reparar que desde que a Olimpíada saiu da Grécia e virou plural, porque antes era apenas um torneio de atletismo, somente os países ditos de Primeiro Mundo, desenvolvidos, chegam ao pódio com maior frequência. Uma sociedade centrada em valores universalmente intocáveis e corretos prepara seus jovens para todos os caminhos, e o esporte é um deles.
A China, com sua ditadura mas também com sua disciplina, sua cultura e seu crescimento atual, preparou-se orgulhosamente para essas Olimpíadas. Desde 2001, sete anos antes, portanto, criou centenas de centros de formação de adolescentes, arrebanhando 370 mil deles e formando-os nas modalidades afins. Enquanto isso, logo após perder a chance da medalha de bronze ante o adversário francês, o judoca paulista Eduardo chorava diante das câmeras lamentando não ter conseguido mudar de faixa porque não teve R$1 mil para pagar pela nova graduação.
Somos o país da economia e da Amazônia, e só. Fico embevecido - de terror! - quando nossos babacas televisivos vibram com a conquista de "mais uma medalha", ou, melhor, mais um bronze, contentando-se com raros terceiros lugares e fazendo não menos ruidosa festança quando chegamos em quarto ou quinto. E, como acontece de quatro em quatro anos, apontam sempre nossos perdedores como "uma promessa" para os próximos jogos, promessa nunca paga, infelizmente.
Não vou muito longe. Visitem uma escola pública na Bahia e verão que, muito mal, se houver, lá estará uma quadra esburacada, sem traves, sem redes e sem garrafões. Piscinas? Nem sonhar. Pistas de atletismo? Onde e como ter acesso à equitação, ao remo, à esgrima, ao tiro ao alvo, ao handibol? E as escolas particulares, ficam muito à frente?
Resumo em uma só palavra a causa de nossos fracassos não somente nos esportes, mas também em áreas como ciências e tecnologia: educação. Continuamos a ter os governantes que merecemos porque somos nós que os elegemos, não há muito do que reclamar.
Antônio Luís Almada é jornalista.
Mal começaram as Olimpíadas e a gloriosa imprensa nacional coloriu seu provincianismo ufanista fazendo meio estardalhaço pela conquista de uma medalha... de bronze. Isso depois de China, EUA e Coréia do Sul já terem iniciado a conquista do ouro, o que seria incomum se assim não fosse. Hoje, quando escrevo este artigo, 15 de agosto, 21 países já conquistaram medalhas de ouro, prata e bronze, entre eles Azerbajão, Tailândia e Eslováquia, enquanto o Brasil conquistou heroicamente quatro medalhas de bronze.
A questão não é o ouro, a prata ou o bronze, mas o ferro social que levamos de quatro em quatro anos. Não é à toa que nossa melhor marca em olimpíada ainda é o atletismo, modalidade em que os africanos, cujo nível social não se distancia muito do nosso, também são bons. Ora, direis, temos também o voleibol, mas não é lá muita coisa para uma competição com a diversidade esportiva como são as Olimpíadas.
Pode reparar que desde que a Olimpíada saiu da Grécia e virou plural, porque antes era apenas um torneio de atletismo, somente os países ditos de Primeiro Mundo, desenvolvidos, chegam ao pódio com maior frequência. Uma sociedade centrada em valores universalmente intocáveis e corretos prepara seus jovens para todos os caminhos, e o esporte é um deles.
A China, com sua ditadura mas também com sua disciplina, sua cultura e seu crescimento atual, preparou-se orgulhosamente para essas Olimpíadas. Desde 2001, sete anos antes, portanto, criou centenas de centros de formação de adolescentes, arrebanhando 370 mil deles e formando-os nas modalidades afins. Enquanto isso, logo após perder a chance da medalha de bronze ante o adversário francês, o judoca paulista Eduardo chorava diante das câmeras lamentando não ter conseguido mudar de faixa porque não teve R$1 mil para pagar pela nova graduação.
Somos o país da economia e da Amazônia, e só. Fico embevecido - de terror! - quando nossos babacas televisivos vibram com a conquista de "mais uma medalha", ou, melhor, mais um bronze, contentando-se com raros terceiros lugares e fazendo não menos ruidosa festança quando chegamos em quarto ou quinto. E, como acontece de quatro em quatro anos, apontam sempre nossos perdedores como "uma promessa" para os próximos jogos, promessa nunca paga, infelizmente.
Não vou muito longe. Visitem uma escola pública na Bahia e verão que, muito mal, se houver, lá estará uma quadra esburacada, sem traves, sem redes e sem garrafões. Piscinas? Nem sonhar. Pistas de atletismo? Onde e como ter acesso à equitação, ao remo, à esgrima, ao tiro ao alvo, ao handibol? E as escolas particulares, ficam muito à frente?
Resumo em uma só palavra a causa de nossos fracassos não somente nos esportes, mas também em áreas como ciências e tecnologia: educação. Continuamos a ter os governantes que merecemos porque somos nós que os elegemos, não há muito do que reclamar.
Antônio Luís Almada é jornalista.