sábado, 26 de julho de 2008

Por André Carvalho. Escrito em 20 de julho de 08
btreina@yahoo.com.br

Sisudez
O Brasil está se tornando um país sério! Não no sentido do decoro, da honradez, qualidades que andam à mingua, mantendo atual o pensamento atribuído ao general francês Charles De Gaulle que, na década de sessenta, referindo-se ao nosso povo teria dito: ”O Brasil não é um país sério”.

Quando digo “sério” o faço no sentido da sisudez, circunspeção e, até mesmo, tristeza. Um amigo me tem dito que o país está, a cada dia, mais sem graça. É verdade! A ditadura das minorias, em sua minoria, somado ao penitencialismo de muitos legisladores e a catequese maniqueísta de influentes figuras vêm enterrando a beleza do existir e do conviver feliz e alegre.

Sob o cobertor esfarrapado do politicamente correto o brasileiro não pode mais, por exemplo, aludir aos homossexuais através da figura de tênue e fagueiro animal, como não pode mais tratá-los com outras fartas denominações que a muitos deles agrada e distingue. As restrições são muitas. Preto passou a ser apenas uma cor ou, como manda a física, a ausência dela, e velho significa algo que foi fabricado, e não nascido, há muitos anos. Qualquer distração pode levá-lo às barras da justiça. Dependendo da profundidade da distração, seu “crime” será inafiançável. Não dá para sorrir, concorda?

É triste saber que, no afã de coibir abusos, os legisladores e suas crias, as leis, acabam por transformar o entendimento do discriminatório em pesada intransigência, sem que se eduque o país para a tolerância. Vivemos, pois, o estresse da imputabilidade. Não tem graça viver assim!

A lei faculta ao “idoso” saudável, que ainda trabalha, dirige automóvel e faz sexo no auge dos seus sessenta anos, passar à frente nas filas, nos estacionamentos e nos toaletes, como se incapaz fosse. É um despautério legal que irrita o cidadão comum e o leva a um sentimento de inconformismo, não para com o legislador e sim para com o “idoso”.

Obrigar o indivíduo a designar outrem como portador de necessidades especiais ainda não curou ninguém. Melhor seria se o Estado, ao invés de legislar sobre designações e falas, qualificasse a vida de seus filhos necessitados dando-lhes atendimento digno e seguridade ímpar.

Cuidado com o que fala! Moleque é expressão a ser usada apenas em romances e outras obras de ficção. Acautele-se ao olhar mais duro para uma criança ou um adolescente e esqueça a repreensão, caso ele retenha o elevador, cuspa no chão, rabisque seu carro ou lhe esbarre no corredor. Você poderá causar traumas irreparáveis que levarão o mancebo à delinqüência juvenil e você, às barras do tribunal. Medonho, porém verdadeiro!

Fumar virou caso de polícia e de desentendimento com o circunstante ao lado que manifesta seus direitos, sem perceber o exagero de seus arroubos. Por lei não se pode mais fumar nem aqui, nem ali. Questionável! Dia desses o proibirão de fumar em sua própria casa, como já fazem com os donos de estabelecimentos comerciais, ao proibir-lhes o fumo em seus ambientes. Triste e incongruente, percebe?

Agora vem a lei seca no trânsito, parida no período de inconsistência legislativa em que vive o Brasil e que transforma todas as circunstâncias numa única ocorrência. Somos todos “bêbados” irresponsáveis à luz da lei. Claro que a medida cavou apoio em alguns “povoados” segmentos da sociedade: os que não bebem e os que bebem mas não possuem carro. Desalentador esse Brasil!

A vida por aqui está perdendo a graça, o viço. Vamos morrer de tédio no holocausto da alegria. Desastrosa constatação, não? Se existir burca para homens, quero uma para mim.