sexta-feira, 2 de maio de 2008

Artigo de Josias de Souza

Josias de Souza, em seu Blog -


O nome é empolado: Fundo Soberano. Na versão original, seria uma arca de dólares. Que o governo usaria para capitalizar empresas brasileiras com negócios no exterior.

A coisa foi bater no Planalto. Ouve daqui, escuta dali, Lula levou o pé atrás. “Foi ao freezer”, confidenciaram auxiliares do presidente.

Guido Mantega apressou-se em dizer que a idéia não fora ao gelo. Nada disso. De jeito nenhum. Absolutamente.

Pois bem. Nesta sexta-feira (30), o ministro da Fazenda voltou aos holofotes. Informou que o projeto do Fundo Soberano vai ao Congresso, finalmente, na semana que vem.

O que era dólar virou real. A pretensão de financiar empresas no estrangeiro foi trocada pelo socorro ao Banco Central no combate à volta da carestia.

Para fornir o tal Fundo, disse Mantega, o governo fará uma economia adicional de 0,5% do PIB. Coisa de R$ 13 bilhões.

Na prática, vai-se ampliar a meta de superávit primário de 3,8% para 4,3% do PIB. Bom, muito bom, ótimo. Mas que diabos será feito com o dinheiro?

A julgar pelo que disse Mantega, a grana será recolhida ao cofre. Vai virar uma “poupança anti-cíclica”, seja lá o que isso possa significar.

Diz o ministro que o governo pode lançar mão do dinheiro num momento de crise, para evitar que a economia se retraia.

Afirmou que o confrinho também pode bancar a compra de títulos do próprio governo. “Diminuiria a dívida em poder do público. Ela ficaria com o fundo.”

De resto, acrescentou Mantega, “oportunamente, quando se fizer necessário, os recursos poderão ser empregados na compra de dólares”.

Não mais para emprestar a empresários no exterior. A “finalidade”, diz o ministro, seria “segurar a taxa de câmbio.”

Como se vê, urdiu-se na fazenda uma espécie de fundo bombril. Da boca pra fora, tem mil e uma utilidades. Na prática, fica difícil enxergar a serventia.

Antes o exotismo tivesse mesmo tomado o rumo da geladeira. Melhor faria o governo se cortasse despesas e usasse as economias para abater a dívida pública.

Não tem cara de soberano um país que cultiva dívida do tamanho de 41% de seu PIB. Se quisesse mesmo ajudar o BC no combate à inflação Mantega deixaria de lero-lero.

Com uma mão, o ministro manusearia o facão. Com a outra, empurraria o dinheiro poupado para a liquidação do passivo. Com isso, decerto, atenuaria a subida de juros que ainda está por vir.

No mais, essa história de Fundo Soberano parece conversa para muar nanar. Ou, se quiser dar à expressão um sentido útil, Fundo Soberano pode ser uma maneira nova e elegante de se referir aos fundilhos de um monarca.