MENINOS MALUQUINHOS E SENHORES ESPERTOS
Por André Carvalho
10 de abril de 08
btreina@yahoo.com.br
btreina@yahoo.com.br
Pelas calçadas, longe das escolas, abandonados pelas famílias, concentrados nos semáforos e nas esquinas espalhados pelas cidades deste brasilzão incongruente, vivem e morrem milhares de meninos maluquinhos, órfãos em segundo grau, de um Estado irresponsável e insensível.
Antítese do famoso personagem, estes sim, são os nossos meninos maluquinhos.
Safam-se da fome cortante com os restos de uma sociedade desigual, livram-se de dores lancinantes com urros e contorcionismos, driblam a confusão existencial com uma solidariedade frágil e episódica e anestesiam o viver embrenhando-se nas trevas das drogas baratas.
Emporcalhados, estes meninos maluquinhos, são os dejetos humanos de uma sociedade hipócrita que estabelece, mas não cumpre, o Estatuto do Menor e do Adolescente, e que faz desta lei, o desafogo para sua consciência maldita.
Quando os vejo andarilhos e maltrapilhos lembro de “Flicts” o personagem cor, do livro de mesmo nome, escrito por Ziraldo Alves Pinto e lançado em 1969 pela Editora Melhoramentos.
“Flicts” era uma cor. "Não tinha a força do Vermelho, não tinha a imensidão do Amarelo nem a paz que tem o Azul. Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts", segundo o autor.
Nossos meninos maluquinhos, os das ruas, são como “Flicts”: frágeis, feios e aflitos.
Talvez fossem fortes, grandes e serenos, se senhores espertos, não estivessem aí, a surrupiar os recursos do país em jogadas ilegais e imorais. As ilegais, melhor exemplificadas pela corrupção, são passíveis de cadeia, enquanto que as imorais, apenas de escárnio.
Por imoral, tome-se o exemplo das indenizações milionárias distribuídas pela Comissão de Anistia para espertos reclamantes de perseguições políticas durante a ditadura militar. Jornalistas, escritores, políticos e artistas, “presenteados” pelos companheiros com milhões de reais e pensões vitalícias, suficientes para trazer os “Flicts Maluquinhos” para o espectro de cores e sabores de uma sociedade mais justa.
Só mesmo o escárnio para esses senhores. Não há como anistiá-los do mercenarismo torpe de suas ações indenizatórias. Dinheiro sujo, para senhores idem.
*André Carvalho é um escrevinhador free lancer.
