Elio Gaspari, jornalista,
sobre o “bolsa-ditadura”:
"Em 1952 a Alemanha negociou um acordo com o governo de Israel e se comprometeu a pagar 5.8 bilhões de dólares (em dinheiro de hoje) como reparação que o nazismo fez aos judeus. O “Bolsa-Ditadura” já custou ao governo federal 1,5 bilhões de dólares."
Bolsa Ditadura.
Uma vergonha!
Prof. Eloy Fernández Y Fernández
Como quase sempre acontece na vida, o excesso das coisas acaba por prejudicar sua intenção. Desde que o governo de Fernando Henrique Cardoso encaminhou o projeto de lei para assistir financeiramente algumas vítimas do regime militar, muita gente resolveu pegar carona nesse bonde e passou a requerer a pecúnia que, invariavelmente, é paga pelo Estado brasileiro com recursos oriundos dos impostos que pagamos com muito custo.
O problema está no que pode ser entendido como vítima. Situações de puro conteúdo ideológico, como a crítica em periódicos feita através do ensaio, do humor (charge ou texto) ou mesmo de fotos, e, mais além, ações de representantes sindicais em luta pela jornada de trabalho, por salários, ou ainda, jovens estudantes que organizavam congressos estudantis em cidades do interior, passaram a ver nisso motivos de solicitação de pensão ou de um, digamos, ajuste financeiro.
Ora, entrou-se naquela “batalha” sabendo-se o que se iria enfrentar. Jovens estudantes da PUC do Rio que éramos, dirigimos o jornal acadêmico, fizemos reuniões e festas para arrecadar fundos para substanciar ações pela redemocratização do país, ouvimos, noites a fio, os cantos revolucionários de Geraldo Vandré, Victor Jara, Mercedes Soza, Chico Buarque, Pablo Milanés e tantos outros.
Ainda trago na mente o canto triste por Amanda que ia por “la calle mojada, la sonrisa ancha” encontrar-se com Manuel, até que este tombou morto numa greve no Chile. Tinha certeza de que eles ainda iam “se amargar, vendo o céu clarear, de repente, impunemente” e pensei mesmo que ia “morrer de rir” quando esse dia chegasse.
Todo este estofo ideológico, toda esta participação na luta pela redemocratização, fez com que eu acreditasse no trabalho, na necessidade de buscar os caminhos mais justos e corretos para ganhar a vida e poder seguir de cabeça erguida.
Muito soldado de 18, 19 anos que lutou do lado de lá com certeza não lutou por convicção, mas sim porque era mandado, cumpria ordens, e nem estofo intelectual tinha para saber o que se passava. Hoje, sem direito à promoção e sem ajuste financeiro.
Não se trata de revisionismo, ao contrário, trata-se de encerrar o assunto.
Foi um momento histórico, redemocratizou-se o país, cada um, ao seu modo, participou desta luta, vítimas houve, é certo. Mas nem toda demissão, nem todo jornalista, nem toda trajetória artística, nem todo líder sindical ou estudantil, foi propriamente uma vítima. Entretanto, hoje, pedem para receber um dinheiro que sai do nosso bolso.
Artistas, jornalistas, ex-estudantes, ex-líderes sindicais (muitos hoje chefes ou ex-chefes de pastas do Poder Executivo) pelos quais eu, inclusive, nutria àquela época profunda admiração e respeito, estão fazendo de tudo para receber esta “indecentindenização”.
Para conhecimento de vocês, conheço pessoas que foram presas, passaram anos na cadeia, amargaram solitária e não entraram com o processo, pois sabiam que a luta era uma opção ideológica.
Diferente até daquele soldado de 18 anos, que para ela foi mandado e morreu sem jamais saber qual a diferença entre capitalismo e socialismo. Foi empurrado para uma briga por ordem de um Estado de exceção que, como hoje, o obrigava a alistar-se. Aliás, o voto continua obrigatório, a transmissão da Voz do Brasil e até o imposto sindical, símbolos das ditaduras.
Enfim, o pecado não está na lei que indeniza vítimas, mas na avareza daqueles que por algum dinheiro querem se posar de vítimas, depois de serem reconhecidos como ícones da luta pela redemocratização.
Pobre história do Brasil, pobre história individual, como em Judas, um saco de dinheiro as levou para o outro lado.”
O problema está no que pode ser entendido como vítima. Situações de puro conteúdo ideológico, como a crítica em periódicos feita através do ensaio, do humor (charge ou texto) ou mesmo de fotos, e, mais além, ações de representantes sindicais em luta pela jornada de trabalho, por salários, ou ainda, jovens estudantes que organizavam congressos estudantis em cidades do interior, passaram a ver nisso motivos de solicitação de pensão ou de um, digamos, ajuste financeiro.
Ora, entrou-se naquela “batalha” sabendo-se o que se iria enfrentar. Jovens estudantes da PUC do Rio que éramos, dirigimos o jornal acadêmico, fizemos reuniões e festas para arrecadar fundos para substanciar ações pela redemocratização do país, ouvimos, noites a fio, os cantos revolucionários de Geraldo Vandré, Victor Jara, Mercedes Soza, Chico Buarque, Pablo Milanés e tantos outros.
Ainda trago na mente o canto triste por Amanda que ia por “la calle mojada, la sonrisa ancha” encontrar-se com Manuel, até que este tombou morto numa greve no Chile. Tinha certeza de que eles ainda iam “se amargar, vendo o céu clarear, de repente, impunemente” e pensei mesmo que ia “morrer de rir” quando esse dia chegasse.
Todo este estofo ideológico, toda esta participação na luta pela redemocratização, fez com que eu acreditasse no trabalho, na necessidade de buscar os caminhos mais justos e corretos para ganhar a vida e poder seguir de cabeça erguida.
Muito soldado de 18, 19 anos que lutou do lado de lá com certeza não lutou por convicção, mas sim porque era mandado, cumpria ordens, e nem estofo intelectual tinha para saber o que se passava. Hoje, sem direito à promoção e sem ajuste financeiro.
Não se trata de revisionismo, ao contrário, trata-se de encerrar o assunto.
Foi um momento histórico, redemocratizou-se o país, cada um, ao seu modo, participou desta luta, vítimas houve, é certo. Mas nem toda demissão, nem todo jornalista, nem toda trajetória artística, nem todo líder sindical ou estudantil, foi propriamente uma vítima. Entretanto, hoje, pedem para receber um dinheiro que sai do nosso bolso.
Artistas, jornalistas, ex-estudantes, ex-líderes sindicais (muitos hoje chefes ou ex-chefes de pastas do Poder Executivo) pelos quais eu, inclusive, nutria àquela época profunda admiração e respeito, estão fazendo de tudo para receber esta “indecentindenização”.
Para conhecimento de vocês, conheço pessoas que foram presas, passaram anos na cadeia, amargaram solitária e não entraram com o processo, pois sabiam que a luta era uma opção ideológica.
Diferente até daquele soldado de 18 anos, que para ela foi mandado e morreu sem jamais saber qual a diferença entre capitalismo e socialismo. Foi empurrado para uma briga por ordem de um Estado de exceção que, como hoje, o obrigava a alistar-se. Aliás, o voto continua obrigatório, a transmissão da Voz do Brasil e até o imposto sindical, símbolos das ditaduras.
Enfim, o pecado não está na lei que indeniza vítimas, mas na avareza daqueles que por algum dinheiro querem se posar de vítimas, depois de serem reconhecidos como ícones da luta pela redemocratização.
Pobre história do Brasil, pobre história individual, como em Judas, um saco de dinheiro as levou para o outro lado.”
