Escalada bélica não interessa ao Brasil
A escalada da tensão na América do Sul pega os países da região em momentos políticos bem distintos. Na Colômbia, o presidente Uribe só pensa “naquilo”: a reforma da Constituição para poder disputar o terceiro mandato. O cálculo político do presidente colombiano incluiu o risco político de um atrito com o Equador e, conseqüentemente, com a Venezuela. Incluiu até mesmo uma possível reprovação internacional. Isto porque, internamente, Uribe entende que os ganhos políticos e militares resultantes de um duríssimo golpe nas Farcs seriam muito maiores. O fato é que há 50 anos as Farcs e a Colômbia vivem um impasse: nem o grupo narcoguerrilheiro consegue derrubar o governo colombiano, nem este consegue destruir os narcoguerrilheiros. Uribe entendeu que, desta vez, poderia ser diferente. Os relatos terríveis dos sofrimentos infligidos pelos seqüestradores das Farcs aos reféns recém-libertados geraram uma onda de repúdio à narcoguerrilha. Onda esta que Uribe tentou manipular e transformar em onda de simpatia pelo governo da Colômbia. Da Venezuela, muito já se falou. Chávez é espaçoso como o quê. Nos últimos anos, sentado sobre um mar de petróleo a mais de US$ 100 o barril, tem-se dedicado a apadrinhar os governos da Bolívia e do Equador e a infernizar o governo da Colômbia. Chávez mete-se em tudo, envia malas de dinheiro para interferir na eleição presidencial argentina, critica o Congresso brasileiro. Mas internamente, sua situação está estranha. Depois de ser derrotado no plebiscito com que pretendia conquistar o direito de se candidatar eternamente à presidência, Chávez viu sua popularidade despencar nos últimos tempos, de 60% para 38%. A Venezuela está com problemas econômicos internos, com inflação altíssima e desabastecimento de alimentos. Portanto, um inimigo externo é extremamente útil a Chávez. E o Brasil, como fica? O Brasil há muito tempo não navega em condições econômicas e sociais tão positivas. Na economia, os números são ótimos. Economia crescendo, moeda estável, consumo crescendo, indústria produzindo como nunca, juros em baixa, real valorizado, investimentos estrangeiros não páram de entrar. Socialmente, a calmaria é absoluta. Todos os movimentos sociais foram domesticados. As centrais sindicais praticamente comem na mão do governo Lula, a UNE recebe mesada do Ministério da Educação, o MST recebe repasse de recursos através de ONGs. Portanto, não interessa nem um pouco ao Brasil uma escalada bélica no continente. É ruim para os negócios, como se diz. O papel do Brasil é, por isso mesmo, crucial, para acalmar os ânimos e devolver um mínimo de lógica ao processo. Afinal, sabemos que é alto o coeficiente demencial dos principais governantes envolvidos nesta confusão. Nessa hora, o presidente Lula emerge como um poço de sensatez.
