segunda-feira, 31 de março de 2008

A anta pode virar tigre.

Texto do nosso Joelmir Betting, em seu Traduzindo o Economês

A economia brasileira entrou em regime de crescimento com estabilidade. PIB pra cima, IPC pra baixo. Para 2008, aposta-se em repeteco de 2007: PIB acima de 5% com IPC abaixo de 5%. Sucesso da política econômica? Na estabilidade, talvez. No crescimento, não.
A política do governo Lula reprisa a política do governo FHC. Nada contra. Ocorre que no governo FHC essa política foi armada para um Brasil em estado de choque de fora dentro, com o mundo todo em pane, em transe, entre 1997 e 2002.
A manutenção dessa política de choque nos juros mais inibidores do mudo, nos impostos mais suicidas do mundo, nas regulações mais trapalhonas do mundo - com direito a apagão logístico, apagão social e até mesmo apagão moral - essa política é purgativa, anoréxica, repressiva.
Ela não bate com PIB de 5% nem de 4% ou 3% ao ano. Se assim é, por que a economia deu de crescer acima de 4% e já agora de 5% ao ano? Porque pegou no tranco.
Em resposta ao garrote tributário em overdose, estamos informalizando negócios e mercados, ainda que a dano da concorrência civilizada. Em resposta ao arrocho bancário em overdose, estamos desbancarizando o financiamento da produção e do consumo na proporção de dois terços do PIB.
E em resposta ao sufoco orçamentário do setor público despoupado, empresas e famílias estão privatizando, por sua propria conta e risco, a saúde pública, a educação pública, o transporte público, a previdência pública, a segurança pública...
Ou seja: liberando a energia de megamercados não mais cobertos pelo Estado brasileiro deficitário, deficiente e trapalhão. Vai daí que o PIB 2008, assim por linhas tortas, tende a transitar pela bitola de 5%.
Se a política econômica corrigisse seus desvios de rota nos juros, nos impostos e nas regulações - aí, sim, o Brasil cavaria PIB acima de 8% com IPC abaixo de 4%. A anta viraria tigre.