sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Lula negocia tudo e qualquer coisa

Texto da cientista política Lúcia Hippolito. Transcrito de seu blog
O presidente Lula não assimilou ainda a derrota histórica que colheu no Senado quando da derrubada da CPMF. E decidiu recuperar a maioria na casa, custe o que custar. E pode custar caro. Ao país.
Para recompor sua maioria no Senado, Lula decidiu atirar-se de vez no colo do senador José Sarney. Sarney é seu passaporte para a maioria. Para isso, o presidente da República decidiu manter as nomeações na área de Minas e Energia sob o controle do senador maranhense.
Em maio de 2007, Silas Rondeau, apadrinhado de Sarney, deixou o Ministério das Minas e Energia, abatido por denúncias de envolvimento em esquema de fraude em licitações para realização de obras públicas. De lá para cá, o ministério e as principais estatais do setor ficaram nas mãos de interinos, tudo firmemente controlado pela ministra Dilma Roussef, primeira ministra de Minas e Energia do governo Lula e que jamais desencarnou do cargo.
Mas de uns tempos para cá, o fantasma do apagão passou a rondar o Palácio do Planalto. E o governo Lula quer tudo, menos passar pelo mesmo apagão de 2001, que marcou melancolicamente o final dos oito anos de Fernando Henrique. Para isso, vale tudo.
Ceder à chantagem do governo da Bolívia, obrigar a Petrobrás a fornecer gás natural às usinas termelétricas, desabastecendo São Paulo e Rio de Janeiro, bater de frente com ambientalistas para licenciar novas hidrelétricas, ameaça de reativação de usinas nucleares. Vale tudo.
Ontem, finalmente, o governo federal acordou e tomou uma medida muito acertada: uma prestação de contas à sociedade, através de uma entrevista coletiva. Meio desorganizada, com as autoridades se atropelando nas respostas. Mas, enfim, foi uma atitude correta. Para mostrar ao país que existe, sim, um Plano B.
O problema todo é que, no mesmo instante em que as autoridades do setor elétrico davam explicações, o presidente Lula atropelava todo mundo e deixava divulgar a notícia de que o senador José Sarney tinha conseguido nomear o senador Edison Lobão como o novo ministro das Minas Energia. Ou seja, Lula esvaziou inteiramente a autoridade das palavras daquelas pessoas que se esforçavam para mostrar um programa minimamente coerente de enfrentamento de uma eventual crise energética.
Quanto ao novo ministro, sua vastíssima experiência neste setor delicado e estratégico para o crescimento econômico do país vai ao ponto de acender a luz e ligar a TV. Quanto ao microondas, ainda há controvérsias.
Pelo sim pelo não, o futuro ministro Lobão já se armou de um habeas corpus preventivo. Declarou que não será o ministro do apagão. Se, porventura houver uma crise, disse sua Excelência, a responsabilidade será das gestões anteriores. Jogou a bomba no colo da ministra Dilma Roussef. Um cavalheiro, o ministro Lobão.
Será mesmo que este é o melhor momento para o presidente Lula incluir um setor tão delicado, tão estratégico, na cesta básica do fisiologismo e entregá-lo à sanha do PMDB? Aliás, nem é bem ao PMDB, porque Edison Lobão sempre foi do PFL. Só se transferiu para o PMDB recentemente, tanto que o DEM chegou a entrar no STF pedindo seu mandato de volta.
Fica parecendo que, na ânsia de recuperar a maioria no Senado, o presidente Lula não se incomoda em atropelar a ministra Dilma, em entregar à negociação fisiológica um setor tão importante e que passa por um momento delicado.Tudo para conseguir uns votinhos no Senado.
Isto é que é confiança em São Pedro!