terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Cartas de Estocolmo: Cadê o inverno?

Enviado por Sandra Paulsen.

Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há oito anos em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.






De volta ao batente, depois de três semanas de calor e alguma chuva tropical... Uma das perguntas mais freqüentes nesses dias foi: faz muito frio lá na Suécia? A resposta é sempre a mesma: o pior não é o frio, é a escuridão.
Mas o frio também dá pano pra manga...
Para quem vive na Bahia, menos de 20 graus é inverno rigoroso. Meu pobre curió que o diga, já que, na viagem de mudança de Itabuna para Brasília, não resistiu e morreu lá pela altura de João Monlevade, numa Minas Gerais geladíssima para meus padrões de então. Diga-se de passagem, era também um tempo em que eu considerava normal manter passarinho na gaiola...
Meu primeiro choque térmico de verdade aconteceu em Brasília, quando tinha que fazer as aulas de educação física coberta por um poncho de lã e com as pontas dos dedos roxas! Era naqueles tempos em que ainda fazia frio em Brasília...
No Chile, aprendi que as estações do ano não eram uma abstração teórica, mas uma realidade que despertava curiosidade e medo. Afinal, para quem sentia frio em Brasília, o outono chileno já assustava. Morri de frio durante oito anos e reclamei dos rigores do inverno andino. Ligava aquecedores pela casa toda e mantinha um microclima tropical permanente no apartamento!
Agora, estaria pagando com juros pela minha ousadia. Mas a verdade é que... não faz frio na Suécia! Ou melhor, a gente não sente tanto o frio, por estar sempre bem agasalhada e as casas serem bem construídas e com isolamento térmico adequado para agüentar os longos invernos. Há um ditado popular aqui que diz: não existe tempo ruim, há apenas roupas inadequadas.
E a coisa da temperatura é engraçada. Faz frio quando estamos entre zero e cinco graus positivos. É quando normalmente chove e tudo fica cinza e úmido. Mas quando a temperatura cai abaixo de zero, o tempo fica mais seco, geralmente há neve em lugar de chuva, tudo fica mais luminoso e a sensação de frio desaparece. O frio úmido entre zero e cinco graus positivos é sentido nos ossos. O frio seco abaixo de zero não se sente.
E é aí que a gente se anima a sair de casa, para dar um passeio na neve ou patinar nos lagos congelados e aproveitar uns tímidos raiozinhos de sol. Mas neste ano, parece que vamos morrer de frio e penar no escuro! As temperaturas estão variando entre zero e cinco graus positivos e Estocolmo está com cara de outono! O que, de qualquer jeito, já é frio o bastante...
E é o caso até de uma baiana perguntar, desapontada: cadê o inverno?
via Blog do Noblat