quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Toma juízo, Míster!

Escrito por Andres Viriato.
Certamente por falta do que fazer ou de vocação legislativa, o deputado comunista Aldo Rebelo conseguiu aprovar um projeto de lei que proibe o uso de palavras estrangeiras em nosso material impresso - jornais, textos de publicidade e outros. Longe da radicalização dos franceses em defesa de sua língua e do velho xenofobismo nazi-fascista, fico à vontade para encarar a proposta sob os pontos de vista de cidadão e jornalista.
Primeiramente, e mais importante, como cidadão, perguntaria ao deputado se ele conhece a realidade do ensino nas escolas públicas do país, entre elas as universidades federais. Mais preocupante que um ok, friend é o encino (com cê mesmo) que encontramos em provas do primeiro ao terceiro graus, isso falando hipoteticamente, porque é uma vergonha se deparar com qualquer prova de Língua Portuguesa em qualquer curso de qualquer nível do país. Há advogados, por exemplo - e não são poucos - cujo texto é uma vergonha para a OAB e para o país.
Não precisaria fazer um ditado de palavras com os nobres deputados, inclusive o próprio Rebelo, para mostrar o quanto eles conhecem de nossa pátria língua. Aonde quero chegar? Primeiro, quero entender que um deputado que conhece os problemas do país e se interessa por resolvê-los não deveria perder tempo com abrobrinhas. No mínimo, discutir a questão com linguistas e mestres no assunto para saber quais os caminhos mais eficazes para preservarmos nossa cultura, sem a demagogia parlamentar que caracteriza muitos de nossas excelências.
Seria mais justo, Excelência, acabar com nossos analfabetos, tornar nossas escolas dignas de um ensino de qualidade, fazer de nossas universidades centros de excelência e da própria pesquisa linguística, que exige inclusive laboratórios especializados. Tente inquirir nossos formandos sobre assuntos de sua área e verá por quantas anda o ensino universitário em nosso país.
E já que Sua Excelência falou de publicidade, não seria mais honroso se nosso Congresso exigisse uma presença mínima de negros em nossas telinhas do dia a dia? O senhor já viu negro, criança ou adulto, em linha de frente na publicidade brasileira? Seria melhor o senhor se preocupar com os muitos graves problemas da nação brasileira do que tentar meter o bedelho no que não conhece.
Por mais presente que sejam os estrangeirismos que, a cultura - aí incluindo a língua - de qualquer país tem blindagem suficiente para se preservar, mesmo no mais rigoroso clima colonialista. A influência da língua inglesa no mundo é produto, hoje, não de qualquer sotaque imperialista, mas da potência que são os Estados Unidos em todos os ramos de atividade. Eles criam, desenvolvem, realizam, descobrem, e é justo que também dêem nomes aos bois. Imagino Bill Gates criando o windows e, em respeito a Rebelo, dando-lhe o nome de janela!