quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Das cotas e dos intelectuais

Escrito por Andres Viriato (*)

Há anos que venho investindo uma fortuna (para assalariado é uma fortuna mesmo) na educação de minha filha, pagando escolas particulares, e estamos, enfim, às portas do vestibular. Eu invisto o vil metal, ela investe cerca de dez horas diárias de estudos, e juntos sacrificamos lazer e outros benefícios de consumo. E daí?
Daí ela me pergunta, com certa angústia: e se eu obtiver pontos suficientes para ser aprovada e for preterida por candidatos com menos pontos mas beneficiados pelas cotas? Eu me calo, não saberia responder, a coisa parece tão constitucional que nem justiça resolve. Mas me pergunto: é justo? Que culpa temos nós dois se o Estado não cumpre sua obrigação legal de oferecer estudo de qualidade, gratuito, a pobres e ricos, negros e brancos?
Assustado com essa possibilidade, começo a matutar, para início de conversa: cotas raciais, para mim, é pura discriminação. Se não há cotas para “brancos” é porque o Estado os discrimina? Ou discrimina os negros, considerando-os inferiores e por isso os beneficia com as famigeradas cotas? Que mal fizeram os brancos, principalmente a grande maioria, da classe média, que sacrifica a roupa do corpo para dar uma educação melhor a seus filhos?
E se alunos egressos da escola pública também têm direito a cota (30%), não é uma confissão do Estado de que seu ensino é de baixa qualidade e tão deficiente que, não podendo concorrer com o ensino privado, compensa sua incompetência com a instituição de cotas?
Não sei se é tirania oficial, burrice ou mais uma dessas inutilidades geradas por mentes intelectualóides.Tenho aversão a intelectuais, principalmente os baianos. São obrigatoriamente de esquerda, geralmente falam entre aspas e são especialistas em gerar discórdias.

Lembro-me que alguns desses factóides se juntaram para solicitar ao governo – e conseguiram – uma pensão vitalícia para Dona Dadá, mulher de Corisco, um cangaceiro e, em conseqüência, assaltante e assassino. Por que não para todas as viúvas do Estado, viúvas de gente decente, trabalhadora e de boa índole? Daí, as cotas e outras coisas mais...

(*) Andres Viriato é jornalista.