quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A morte de Eduardo Campos e o cenário eleitoral

Por Francisco Petros

A morte de Eduardo Campos e o cenário eleitoral
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais importante fato político da atual campanha eleitoral.
A morte de Eduardo Campos é, tragicamente, o mais importante fato político da atual campanha eleitoral. Dentre os principais candidatos certamente Eduardo Campos era a "novidade" da eleição presidencial. Não propriamente em função de sua trajetória política, nascida em meio de uma das mais importantes oligarquias políticas do Nordeste, a do governador Miguel Arraes – que morreu também nesta mesma data.

Homenagem de Roque Sponholz


 Eduardo Campos, jovem político da geração pós-64, procurava ocupar um espaço político entre o denominado lulismo e o eixo direito da política brasileira, ilustrado pelo mineiro Aécio Neves. Sua vinculação com a ex-candidata à presidência Marina Silva, muito embora se revestisse de ausência de identidade política entre ambos, poderia assumir a feição de uma espécie de "terceira via" na atual corrida eleitoral. Até a ocorrência deste triste episódio, a probabilidade de Campos ampliar a densidade de votos era baixa. Estava evidente que as eleições caminhavam para uma polarização entre o discurso político "burocrático-empresarial" de Aécio Neves e a "plataforma social" de Dilma Rousseff, embora esta última não encarne o lulismo na sua essência.

Homenagem de Amarildo


A morte de Eduardo Campos assumirá uma feição importantíssima, a despeito de seu fraco desempenho nas pesquisas eleitorais até agora. Marina Silva deverá ser a candidata do PSB à presidência e, com isso, transformará a corrida eleitoral atual num debate muito mais aceso a respeito do desenvolvimento e da política. A candidata Marina Silva contará com a herança de cerca de 20% dos votos da eleição de 2010, bem como esgarçará os votos à esquerda e à direita do eleitorado brasileiro. Para Marina Silva, o desenvolvimento é uma questão ideológica e pode ser calcada em novas bases, dentre as quais, envolvendo o tema da sustentabilidade social e ambiental. Daí decorre, em contraposição à sua moderna visão política, a alusão de "sonhática" à candidata, termo este que carrega uma perspectiva de transformação e, paradoxalmente, de empecilho ao desenvolvimento econômico e à finança. Portanto, não se deve subestimar o efeito dramático e imenso que a morte de Eduardo Campos tem sobre a atual política brasileira.

Homenagem de Samuca


É difícil projetar a significação, digamos, "numérica" da troca de Campos por Marina. As pesquisas informarão rapidamente estes efeitos. Vale alertar que não dá para simplesmente verificar as pesquisas antigas e projetar o futuro. O evento dramático da morte de Campos trará elementos novos ao imaginário popular e, com certeza, afetarão a substância do voto (aspecto qualitativo) e não apenas o percentual (aspecto quantitativo). 

Arrisco-me a afirmar que a polarização eleitoral pode se alterar. Marina tem todos os ingredientes para assumir a feição oposicionista ao governo. Note-se que os votos de Marina não serão um legado perfeito de Campos. Os votos de Marina serão extraídos, como já dissemos, à direita e à esquerda do candidato pernambucano, ou seja, será vista como mais oposicionista que Aécio Neves e mais "social" que Dilma. Trata-se de um novo total de votos. O eleitor deverá se acomodar em novas bases e à luz de novos fatos.

Homenagem de Sinovaldo


A política é construída racionalmente e emocionalmente, mas é decidida nos detalhes. Quem imaginaria que a escolha de Marina Silva em ir para o PSB poderia desembocar neste destino? Não fosse a "Rede" inviabilizada pela Justiça Eleitoral, não seria Marina a candidata com enormes chances de mudar o cenário eleitoral. Tudo pode mudar.

Há também o cenário de uma vitória de Dilma Rousseff ganhar a eleição em primeiro turno. As pesquisas indicarão a situação atual, mas isto será decidido muito mais em função do comportamento político de Marina Silva face aos novos fatos que pelos cálculos aritméticos dos institutos de pesquisas.

Homenagem de Frank


A pergunta adicional e relevante que surgirá, logo à frente, será em torno programa econômico de Marina Silva. Sabe-se que este tem um caráter evidente de conservadorismo, em função do perfil dos economistas que a assessoram (Eduardo Gianetti da Fonseca e André Lara Resende), bem como elementos que apontam para o futuro, notadamente nas questões de vanguarda como no caso da ecologia, da matriz enérgica e dos programas sociais.

O comportamento das elites perante o novo marco desta eleição será igualmente importante. Eduardo Campos estava inquieto com o apoio financeiro à sua campanha. Marina Silva, por conta da tragédia que se desfralda, pode ter mais apoio. A palavra está com o eleitor que recebe esta notícia como um novo ponto de partida no inquietante jogo eleitoral do Brasil de hoje.

Vamos continuar refletindo sobre estas questões e informaremos os nossos eleitores a respeito de nossas percepções.

Francisco Petros é economista, pós-graduado em Finanças. É Bacharel em Direito. Foi Presidente da APIMEC-SP (Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).